Três Perguntas, Três Respostas: Papéis e Impacto das Mulheres nos Países Produtores de Café – INSIDE NKG

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Três Perguntas, Três Respostas: Papéis e Impacto das Mulheres nos Países Produtores de Café

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Três Perguntas, Três Respostas: Papéis e Impacto das Mulheres nos Países Produtores de Café

As mulheres que estão desenhando o futuro do café

Da semente ao embarque, as mulheres desempenham um papel vital, mas muitas vezes sub-representado, na cadeia global de fornecimento de café. Seja no campo, no controle de qualidade ou na militância, suas contribuições moldam o futuro do café de forma significativa. Nesta edição, conversamos com três mulheres que ocupam diferentes posições na cadeia de suprimentos: uma especialista em sustentabilidade que trabalha diretamente com os agricultores, uma comerciante de café verde que navega nos mercados internacionais e uma representante de uma organização que capacita mulheres em comunidades cafeeiras. Cada uma delas traz sua própria perspectiva distinta, oferecendo percepções femininas sobre o mundo do café. Fizemos as mesmas três perguntas a cada uma delas e suas respostas revelam não apenas desafios, mas também resiliência, inovação e esperança.

Quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam nos países produtores e quais oportunidades você enxerga para mudança ou crescimento?

Você pode compartilhar um exemplo de um projeto, iniciativa ou experiência pessoal que tenha ajudado a capacitar as mulheres que trabalham com café?

O que a motiva a trabalhar com café e que mensagem você gostaria de compartilhar com outras mulheres do setor?

Em países produtores como Honduras, as produtoras de café enfrentam grandes desafios. Entre os principais estão o acesso limitado à assistência técnica, as escassas oportunidades de financiamento e o ônus das responsabilidades domésticas, que reduzem significativamente o tempo disponível para se dedicar à produção. Além disso, em alguns casos, as limitações vêm das próprias produtoras, devido à falta de autoconfiança ou de oportunidades de treinamento.

Do meu ponto de vista, a mudança e o crescimento começam com as próprias produtoras. É importante fortalecer suas competências, senso de liderança e autoconfiança. Mas o setor também deve apoiá-las com programas mais inclusivos e equitativos que levem em conta as necessidades específicas das mulheres. Isso lhes dará acesso a recursos, conhecimentos e redes de apoio que melhorarão sua participação e desenvolvimento na cadeia de produção do café.

Embora eu não tenha experiência pessoal direta, tive a oportunidade de fazer parte da equipe da BECAMO que implementa projetos voltados para a capacitação de mulheres, tanto produtoras quanto aquelas que, embora não sejam produtoras, desempenham um papel fundamental na tomada de decisões dentro da família.

Entre as iniciativas mais notáveis estão as hortas hidropônicas, que fortalecem a segurança alimentar e geram renda adicional; treinamento com horários flexíveis, adaptados às responsabilidades diárias das mulheres; e programas de financiamento de curto e longo prazo destinados a facilitar a renovação ou reabilitação de fazendas. Além disso, é promovido o acesso equitativo a projetos e oportunidades, reconhecendo o papel fundamental das mulheres em toda a cadeia do café.

Venho de uma família de produtores de café, portanto o café fez parte da minha vida desde antes de eu nascer. Trabalhar agora em uma empresa de exportação de café me permitiu ver o setor de outra perspectiva, entender os desafios que enfrentamos como país e valorizar ainda mais o esforço por trás de cada produtor de café e de cada saca que confiam a nós.

O que me motiva a continuar nesse campo é o quanto cresci como pessoa e como profissional. O café me ensinou a me adaptar, superar desafios e, acima de tudo, reconhecer o impacto que podemos ter ao fazer parte de mudanças positivas na cafeicultura hondurenha.

Eu diria a outras mulheres do setor que nosso papel no café é importante e necessário. Cada passo que damos nesse campo abre caminho para que mais mulheres sonhem, decidam e liderem no mundo do café, e mostra que também fazemos parte da mudança que a cafeicultura precisa.

Daniza Michell Oliveros,
Monitoring/Compliance Officer EUDR, Sustainable Producer Services Unit, Becamo

Quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam nos países produtores e quais oportunidades você enxerga para mudança ou crescimento?

Você pode compartilhar um exemplo de um projeto, iniciativa ou experiência pessoal que tenha ajudado a capacitar as mulheres no café?

O que a motiva a trabalhar com café e que mensagem você gostaria de compartilhar com outras mulheres do setor?

Um dos maiores desafios que as mulheres enfrentam nos países produtores é a desigualdade de acesso aos recursos. Terra, financiamento, treinamento e informações de mercado costumam ser mais difíceis de acessar para elas do que para os homens. Além disso, os papéis tradicionais de gênero geralmente determinam que as mulheres cuidem da casa e da família e, ao mesmo tempo, contribuam com o trabalho agrícola. Há várias boas iniciativas, projetos que promovem a igualdade de gênero por meio de treinamento e reconhecimento de cafés produzidos por mulheres. Esses esforços são encorajadores, mas mudanças reais levam tempo. Além disso, não se trata apenas de mudar a percepção dos homens, mas também de as próprias mulheres desenvolverem autoconfiança. Ainda há um longo caminho a percorrer.

Em outubro, participei do 4º Women Powered Coffee Summit aqui no México, em San Cristóbal, no estado de Chiapas, juntamente com mais de 300 mulheres de todo o mundo do café, desde produtoras da América Latina até profissionais internacionais do setor. Essa cúpula é um espaço único que conecta mulheres de todas as partes da cadeia de suprimentos para trocar conhecimentos, compartilhar experiências e construir redes de contatos além das fronteiras. Para mim, é um forte exemplo de uma iniciativa que capacita as mulheres ao criar visibilidade, aumentar a confiança e fortalecer a comunidade.

Sou motivada pela diversidade e pelo impacto que o trabalho com café proporciona. Esse setor conecta mundos tão diferentes - uma única conversa pode passar de números, comércio e logística para tradição, sabor e cultura. Para os produtores, o café significa um meio de vida, enquanto para os consumidores pode não ser essencial para a sobrevivência, mas para muitos parece indispensável, algo que energiza, alenta e traz alegria para a vida cotidiana. Fazer parte dessa cadeia de valor me dá um profundo senso de propósito. Sou grata por meu trabalho não ser apenas uma profissão, mas algo que realmente gosto de fazer todos os dias. Para mim, nunca se tratou de ser "melhor", mas de ser igualmente valorizada e ter a mesma oportunidade, o mesmo direito de estar aqui, de aprender e de contribuir. Minha mensagem para outras mulheres é: permaneçam resilientes, mantenham sua paixão e concentrem-se na colaboração. O verdadeiro progresso vem de homens e mulheres que trabalham juntos e respeitam as contribuições uns dos outros.

Verena Bonn,
Head of Certifications & Trader, ECC

Quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam nos países produtores e quais oportunidades você enxerga para mudança ou crescimento?

Você pode compartilhar um exemplo de projeto, iniciativa ou experiência pessoal que tenha ajudado a capacitar as mulheres no café?

O que a motiva a trabalhar com café e que mensagem você gostaria de compartilhar com outras mulheres do setor?

Um grande desafio ao longo da cadeia de suprimento de café continua sendo a visibilidade e o reconhecimento do trabalho das mulheres. Infelizmente, há estruturas muito hierárquicas em vários países produtores de café, o que significa que as mulheres têm menos instrução e, portanto, menos oportunidades. Além disso, a imagem tradicional da família significa que a criação dos filhos e o trabalho doméstico deixam as mulheres com poucas oportunidades de se envolverem na otimização do cultivo do café. Como os cafeicultores precisam cada vez mais de duas rendas, as mulheres terão de assumir ainda mais responsabilidades, então horários de escola e de creche apropriados ajudariam muito. Espera-se que o aumento da transparência com a ajuda de ferramentas digitais ajude a mapear melhor a cadeia de suprimentos e, assim, simplifique o acesso ao mercado.

Em 2018, com a ajuda da então SCAE (Specialty Coffee Association of Europe), um terreno na província de Rulindo foi comprado da IWCA Ruanda (International Women in Coffee Alliance). O processo legal para a compra foi complicado, mas a cooperativa de mulheres Koakaka foi criada. Angelique Karekezi, presidente da IWCA Ruanda na época, estabeleceu contato com uma cooperativa de torrefação de Berlim. Com a ajuda da GIZ, uma instituição alemã que incentiva a cooperação internacional, um projeto de blockchain foi introduzido - felizmente pouco antes da pandemia. As agricultoras de café foram treinadas e a Angelique's Finest foi lançada como marca. Esse projeto de um café feito inteiramente por mulheres conecta o cultivo diretamente com o mercado alemão e ganhou o Prêmio Alemão de Sustentabilidade em 2024. https://kaffee-kooperative.de/angeliques-finest/

O café não é apenas um produto muito variado e interessante, mas também um produto natural e delicioso. O processo inteiro, desde o cultivo até o processamento e a preparação, tem muitas facetas; sempre há algo novo para aprender. Mas não é apenas o produto, mas principalmente as pessoas que estão por trás do produto, que fazem com que seja empolgante trabalhar nesse setor todos os dias. Sinto-me privilegiada por ter viajado para muitos países do mundo nos últimos 25 anos, por ter conhecido muitos entusiastas do café e estou feliz por poder continuar com meu envolvimento com a womenincoffee.org. O trabalho voluntário pode fazer uma grande diferença e somos gratas por toda forma de apoio!

Anke Erichsen,
Membra da Diretoria da International Women’s Coffee Alliance (IWCA) Global

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